segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Perfor1 2010


Vou participar do Perfor1 2010 (fórum de performance).

Apresentarei DERMATOGLIFIA, performance inspirada no trabalho da artista plástica Beth Moyses.

Dia 16/11/2010 - 20h

Local: Cine Galpão

Rua Scipião, 138- Lapa

Grátis!


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Eu não vou perturbar a paz

Foto: Patrícia Marioli

Se eu me sentasse ao seu lado
Saberia dos seus mistérios
Ouviria até a sua respiração leve.
Se eu me sentasse ao seu lado...
(Manuel de Barros)



Rito de Passagem

O texto e as fotos abaixo, fazem parte do meu processo de criação para o espetáculo Rit.U realizado pela Taanteatro Companhia no projeto NUTAAN 2010 comtemplado pela Lei de Fomento a Dança de Estado de SP
Fotos: Wolfgang Pannek, Valter Felipe e Renô

Em minhas veias correm o sangue dos meus antepassados...
Quantas vidas tive?
Deito-me em suas raizes e encontro-me com as minhas, a terra me acolhe, e em seus braços sou embalada num sono leve; o corpo relaxa mas a mente teima em continuar desperta; ouço passos sobre as folhas secas, é hora de acordar!
Já em pé, base plantada no chão como as grandes raizes da árvore ancestral, sinto o calor de um fino raio de sol que atravessa as folhas e ilumina o meu rosto.
Zerar...
A serpente adormecida desperta envolvendo o meu corpo com sua vibração, mergulho em ondas de seiva e caminho lentamente sentindo a densidade do ar, medo e apreensão sinalizam o que esta por vir.
Danço minhas lembranças soturnas, sou lançada ao chão pelo peso insusentável das palavras, o abraço apertado e asfixiante me traz a consciência da aproximação da morte, ouço o som de um sino enquanto o corpo lento da lesma é dissolvido pelo sal das memórias.
A poeira salgada entra pelos pelos poros entupindo todos os buracos. Já não vejo e não ouço, falta saliva pra concluir o grito, o corpo se debate, luta contra a morte, estou seca , por dentro e por fora - é preciso morrer!
O corpo físico vivência sua morte simbólica e é sustentado pelo chão, enquanto o corpo de sensações dança no espaço a plenitude do vazio. O limite do eu é o univeso.
Ao longe, um canto doce anuncia a passagem da morte para a vida. O pó da raiz branca que alimentava os índios é peneirado sobre a pele, o som do tambor atravessa a carne reavivando as batidas do coração, meu corpo -(em) branco- se movimenta lentamente em contato com a vida.
Respiro.
Renasço.
Revivo.
Danço a força que me ergue.
Corpo ereto, olhos, bocas, sorrisos; a cantoria não cessa e embala meus ossos em movimentos contínuos, tenho fome de vida, mastigo pedaços de vísceras ao mesmo tempo que chupo as tetas da vaca profana . A boca vermelha sangra de vontade , mostra os dentes sujos e sorri para a menina morta.
A deusa obscena rasga a carne e borda na alma as letras escolhidas para compor o nome, costura em vermelho o tecido branco que me liga ao o umbigo do mundo, riso e gozo.
Tenho que parir a mim mesma, a moira sedenta segura em sua mão a faca afiada, sou forte para suportar a dor de ser expelida, estou pronta para nascer- abandonar o transitório e revelar o verdadeiro.
Assumo o meu nome, nome de poder, danço sua pureza e delicadeza no grau máximo de sua força, dou passagem à mulher que chega de peito aberto para receber a potência da vida e buscar o desconhecido.
O nome de batismo é celebrado em roda até que as pernas possam correr em direção a realidade, corro segurando a mão paterna, observo os carros que passam na rua barulhenta, sinto que o corpo do outro é a extensão do meu próprio corpo, sou parte do todo ... Danço a vida que se renova em mim a cada repiração.












sábado, 6 de novembro de 2010

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Gesamtkunstwerk

Performance realizada na abertura da exposição "Gesamtkunstwerk"- no dia 27 de março de 2009 no Ateliê do Centro de Rubes Espírito Santo.

Ação: Esperar (pacientemente) instalada dentro de uma geladeira o derretimento de um enorme cubo de gelo.

Fotos: Daniel Cunha


"É que tudo que eu tenho não se pode dar. Eu mesma posso morrer de sede diante de mim. A solidaão está misturada a minha essência...

(...) porque os últimos cubos de gelo haviam-se derretido e agora ela era tristemente uma mulher feliz."


(CLarice Lispector- Perto do Coração Selvagem)












GESAMTKUNSTWERK




quinta-feira, 13 de maio de 2010

Não volte a dormir

"A brisa do amanhecer tem segredos para contar
Não volte a dormir.
Você precisa pedir o que você realmente quer.
Não volte a dormir.
As pessoas estão indo e vindo através do limiar
onde os dois mundos se tocam.
A porta é redonda e esta aberta.
Não volte a dormir."


RUMI

quarta-feira, 17 de março de 2010

Corpo em (de)composição

Texto: Lilian Soarez

“Mudar o corpo, mudar o mundo, uma coisa não se faz sem a outra” (...).
Antonin Artaud


Ele me convoca, me tira do eixo, destrói minhas certezas, arrebata minha alma.
Entrar em contato com seu pensamento revolucionário aciona meus instintos mais primitivos, devoro suas palavras com voracidade, mastigo com gosto cada pedaço de frase, cada letra, cada vírgula. Sou como um bicho devorando sua presa. Minha fome vem do espírito e não tem fim, sou habitada por uma multidão que não cessa em pedir mais. Não há lugar para reservas, não existe digestão, apenas passagem; tudo o que é consumido é também destruído. Seria preciso costurar os buracos para reter a massa das emoções. Seria preciso acorrentar os sentimentos para que se pudesse cultivar a poesia.
Tento respirar, mas suas palavras me sufocam, não tenho como me proteger , sou atingida por um jorro de intensidades que entopem meus poros, o ar não chega aos pulmões, a asfixia me leva à morte; percebo-me finalmente viva.
Estou viva como uma serpente que se deixa encantar pelas vibrações da música. Enfeitiçada pelas vibrações do seu pensamento, sou permeada por angustias e desejos de liberdade. Sua música rouba minhas forças, e ao mesmo tempo me impulsiona a agir, mas meu corpo está em transe, quase que desfalecido, já não sou mais eu quem esta ali, mas um outro. Seu corpo é transparente e esburacado, não existe dentro ou fora, tudo está exposto. Posso ver suas vísceras, seus líquidos, seus medos, seus humores, seu sangue borbulhando. O ar que entra em seus pulmões é transformado em grito, sua fala não passa pelo entendimento racional, mas a sonoridade é concreta, sólida como um objeto capaz de abalar o espaço e atingir o espírito. Seu grito profundo contém uma intensidade anormal que cria ressonâncias capazes de manifestar toda a crueldade latente e toda força orgânica que o corpo consegue suportar ao produzir um duelo entre a carne e a alma. O embate espírito-matéria provoca ondulações rizomáticas em meu corpo, sacudindo-me da inércia e obrigando-me a entrar em contato com os estados mais profundos da minha existência, onde a peste revela sua face mais perversa e sombria.
Não tenho como fugir deste outro que esta em mim, é meu duplo. Eu sou duplo, mas ao mesmo tempo penso não sê-lo. Habitamos o mesmo corpo, respiramos o mesmo ar, somos nutridos pelas mesmas intensidades, mas seu corpo, que também é meu corpo, contém formas que só podem ser produzidas dentro de um universo de relações não substanciais, relações afetivas, perceptivas, imanentes. Temo entrar em contato com esses planos de imanência onde o corpo despovoado é composto por agenciamentos e ambigüidades, onde não se pode delimitar o espaço do eu ou do outro, estou sujeita as todas as afetações que ele me causa, e quando isso acontece, minhas energias se alteram e perco controle. É ele quem esta no comando agora.
Sua atuação rigorosa me tira da condição de morto-vivo, de sobrevivente. Já não sou mais apenas um corpo preocupado em seguir os modelos sociais, em viver a estética padronizada dos poderes, em sucumbir a todos os mecanismos que me impedem de lutar contra as forças enraizadas que me obrigam a viver como um refugiado num campo de concentração; deixo de ser um cadáver ambulante de olhar opaco, exausto e indiferente e passo a experimentar a vida através de uma nova percepção.
Minhas doses anestésicas foram suspensas, já não recebo mais os choques elétricos, a mordaça da boca foi retirada, libero o grito preso na garganta, mas não tenho como apagar as marcas das amarras deixadas no corpo. A pele está apodrecida, gangrenada, carrega em si todos os registros do corpo adestrado, que mesmo estando livre, não deixa de sentir as dores inquietantes provocadas por suas tortuosas lembranças.
O corpo que antes pertencia ao comedor de ópio, começa a se decompor, ao mesmo tempo que passa a ser habitado pelo outro eu, o eu duplo, o eu cruel, que me ensina as dúvidas, que me faz percorrer longos caminhos escuros, que cutuca minhas entranhas com ferro em brasa, que instiga meus desejos, que questiona as minhas verdades, que testa os meus limites, que retira minhas lentes de proteção, que coloca-me frente -a -frente com a dor ao mesmo tempo que destrói todas as minhas bases de pertecimento do mundo. Este outro eu, que também sou eu, é como um platô, uma zona de intensidade onde não se pode distinguir alegria e sofrimento, morte ou vida; tudo é fluxo, movimento. Ordem e desordem circulam juntas em minhas veias, irrigando e diluindo todos os vincos e amassaduras da pele. Cria-se em mim um corpo novo, pleno de acontecimentos, povoado por mundos distintos que não podem ser nomeados, são como ar ou as correntes elétricas. Sou atravessada por deslocamentos energéticos que percorrem os espaços internos da minha carcaça existencial, preenchendo-a rapidamente por fios invisíveis, compostos de vibrações capazes de sustentar a fluidez do corpo profundo. Meu corpo se refaz e se desfaz a cada instante, sua estrutura anatômica não se enquadra no perfil dos seres organizados. Carnes e ossos foram triturados! Sabe-se que um corpo morto é aquele que não se modifica. Sabe-se que o vazio é povoado por intensidades, por pedaços de imanências, que se alteraram contínua e ininterruptamente. Sabe-se que o corpo imortal é febril, contagioso, fragmentado, contraditório, convulsivo.
O contato com este outro corpo, o corpo de dentro – corpo profundo, faz com que eu tenha a impressão de estar sendo levada por uma enxurrada em direção a um mar de possibilidades infinitamente desconcertantes; nado até o limite das minhas forças, chego à superfície após um quase afogamento, tudo o que consigo produzir a partir deste instante é resultado deste encontro. As memórias que restam não me dizem quem sou, tudo o que sobrou, está revirado, retorcido, desconjuntado, desarticulado -como as bonecas de Bellmer. Abandono meu corpo antigo e passo a ser como um corpo epilético no auge da sua crise, um corpo masoquista no limite da sua dor, um corpo em (de)composição.
Sou um corpo vazio, um corpo imortal, um corpo sem órgãos!


O Texto acima foi escrito a partir da leitura das seguintes referências bibliográficas:

ARTAUD, Antonin. O Teatro e seu Duplo. São Paulo: Max Limonad Ltda, 1984.
ARTAUD, Antonin. Heliogabalo ou o Anarquista Coroado. Lisboa:Assírio & Alvin,
1991.
ARTAUD, Antonin. Carta aos Poderes. 1989.
COURTINE, Jean –Jacques, CORBIN, Alain e VIGARELLO, Georges. História do Corpo vol.3 – As Mutações do Olhar. O século XX. Rio de Janeiro: 2008.
DELEUZE, Guilles e GUATTARRI, Felix. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia, vol. 3. São Paulo: Editora 34, 2007.
________ 28 de Novembro de 1947 – Como criar para si um corpo sem órgãos.
GREINER, Christine e AMORIM, Claudia. Leituras da Morte. São Paulo: Annablume,2007.
________ PELBART, Peter Pal. A Vida Desnudada.
NOVARINA,Valère. Carta aos Atores ou Para Luis de Funès. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1999.
QUILICI, Cassiano Sydow. Antonin Artaud – teatro e ritual. São Paulo: Annablume, 2002 ________Apêndice: “O corpo sem Órgãos ou a Dança às Avessas”.
VIRMAUX, Alain. Artaud e o Teatro. São Paulo: Perspectiva, 1978.

domingo, 14 de março de 2010

CORPO MORTO

Fotos: Lilian Soarez



Diz o conto de autoria incerta:

"Por que razão toda a gente só fala de borboletas e sempre esquece os pobres vermes de que as borboletas se originam? O mais impotante é sempre a forma natural das coisas"


"Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses".

( Rubem Alves)

sexta-feira, 12 de março de 2010

SUSTENTANDO O TEMPO PONTO POR PONTO

Textos: Edith Derdyk (Linha de costura) e Jacques Derrida ( Enlouquecer o subjétil)

A costura sinaliza a expansão da linha costurada no espaço, mas é a distensão do tempo no tempo que se torna trabalho.
A costura é aquele dia, aquele pedaço de tempo.


Entre o movimento que dura o instante que se repete.
Entre a permanência e o instante que me escapa.



A linha ocupa um espaço "entre".



A Linha é contorno, é carne, é ossatura. Qual é o corpo da linha? A linha empresta contorno ao mundo, caminha pela superfície das coisas.
Desvenda a relação entre os objetos sem ser totalmente algum deles. A linha do horizonte a quem pertence: ao céu, ao mar, à terra?



Cadê a linha de encontro entre as coisas do mundo?
A linha é fruto abstrato deste encontro concreto.





Costuro para ser. Não costuro para conquistar as formas. Já que a costura costura para nada, só para ela mesma, que me sirva pelo menos para aprender a viver.


Costurar supõe a condição de furar o material para logo depois juntar. De um tecido contínuo qualquer, de matéria maleável flexível, passível a ser transpassada, será preciso furar, cutucar, romper, cortar para ligar esse mesmo material numa nova configuração. Romper as malhas das tramas, das fibras encadeadas, das linhas sobrepostas, uma a uma, num determinado ritmo e velocidade para novamente religá-las, numa outra sucessão.





Coser: 1. “Eu podia... coser”, e para isso preciso realmente furar com uma agulha ou uma ponta pontuda, perfurar, penetrar, furar a pele da figura, mas posso coser para, 2. para fechar a ferida, suturar, cicatrizar, e mesmo a chaga que abro ao coser. Faço passar o fio que repara, reúne, mantém juntos os tecidos; ajusto a vestimenta que, recobrindo a superfície do corpo, esposa-a em sua forma natural, reveláa ao cobri-la. Ainda a verdade.



Costurar partilha o feito sua ambivalência com coser( transpassar mas também manter juntos os tecidos, pele, tela, ou carne) mas a isso acrescenta também a sua.


Ocupar-se em costurar á não cessar de cobrir de cicatrizes. Pois é esse o sentido desse verbo que relaciona o coser ou a costura apenas á carne. Ter o corpo costurado é poder mostrá-lo coberto de vestígios, as cicatrizes de golpes e feridas. Mas cobrir de cicatrizes pode querer dizer multiplicar os golpes e os gestos de reparações suturas e penso que pertencem ao tempo da cicatrização.



Performance realizada no dia 10/11/2009 - Sala de aula- PUC -SP




































terça-feira, 9 de março de 2010

Fios soltos - 003

Fragmentos de uma noite chuvosa



pingam pérolas do meu guarda-chuva
passos rápidos na noite
Paulista
pálpebras fechando

FIOS SOLTOS - 002

Desejo que busca o sonho
vontade de poder continuar
encontros ativam devaneios adormecidos.

FIOS SOLTOS -001

"Fios soltos" é o título que darei as postagens que Louise Bourgeois chamaria de "pesamentos plumas" ou seja, pequenos (ou grandes registros) de fragmentos que atravessam a minha memória.
Rubem Alves diz: " Pensamentos são como pássaros que vêm quando querem e pousam em nosso ombro. Não, eles não vem quando os chamamos".

Ficarei atenta aos pássaros,
com os meus fios soltos farei um ninho
para abrigar todos os pensamentos plumas.


O primeiro fio - Fragmentos da madugada

pequenos orifícios que irradiam luz,
poros alargados respiram o doce odor de estar vivo,
a brincadeira rompe o silêncio das palavras noturnas.



quinta-feira, 4 de março de 2010

NO MEIO DO CAMINHO... Casa Aibi

No Meio do Caminho... e fragmentos Rampo






Projeto inspirado no MAKE IT NEW, traduzido por Erza Pound.
Pound concebeu uma arte da tradução, onde esta colocada em pé de igualdade com a criação. Renovar... dia a dia , sol a sol, reinventemos pois.
No meio do caminho... homenageia os poetas Bashô , Drummond, Trakl, Rimbaud, Poe, Dante e Beckett, através de suportes e mídias distintas. Num processo ativo o público realiza um percurso arquitetônico para encontrar os poetas e os poemas recriados.
Realizado na Casa Aibi, o percurso No meio do caminho... inicia-se com um corredor de esculturas, que dá passagem ao interior da casa. Ao entrar, poemas em movimento. Uma sala exibe os vídeos-poemas Lírio Dourado e Deslocamentos; seguidos de poemas interativos oratório e TRAKLTAKT. Do alto a caixa sonora apresenta Dante, Pound e Drummond (A máquina do Mundo) em música, récita e canto. Uma pausa no Jardim de Poemas, intalação inspirada em hai-kais. O percurso continua quando surge a Vênus de Rimbuad. Mais abaixo, Star Trakl- Trakl em leituras e action painting. E eis que surge Ningen Isu(HP) de Rampo.
Final do percurso, a céu aberto, Bashô e Leminsk em Pipopoemas.


Vênus de Rimbaud- Performance baseada no poema "Vênus Andiomene "de Arthur Rimbaud.

Fotos: Alexandre D'Angeli

O trabalho desenvolve-se a partir da relação entre o sublime e o grotesco, trás de forma delicada e ao mesmo tempo agonizante das mutaçãoes do corpo nas deformações da vênus criada por Rimbaud.
Durante o percurso que o conduz ao inferno, o espectador é surpreendido por uma porta que possibilita o acesso ao limbo, mas a passagem só pode ser feita através dos sentidos; é justamente nesta passagem que habita a Vênus, um lugar intermediário encoberto por uma fina película, um véu, que cria uma espécie de fronteira ilusória entre o mundo da Vênus e o corredor onde as pessoas estão posicionadas.
A relação se estabelece, ouve -se falas desarticuladas e incompreensíveis, ela esta ali, e seu corpo contorce-se em um dança agonizante. Seu próprio rosto é revelado diante do espectador em forma de pintura.







Tradução:Ivo Barroso

Vênus Anadiomene



Qual de um verde caixão de zinco, uma cabeça

Morena de mulher, cabelos emplastados,

Surge de uma banheira antiga, vaga e avessa,

Com déficits que estão a custo retocados.









Brota após grossa e gorda a nuca, as omoplatas

Anchas; o dorso curto ora sobe ora desce;

Depois a redondez do lombo é que aparece;

A banha sob a carne espraia em placas chatas;








A espinha é um tanto rósea, e o todo tem um ar

Horrendo estranhamente; há, no mais, que notar

Pormenores que são de examinar-se à lupa...











Nas nádegas gravou dois nomes: Clara Vênus;-

- E o corpo inteiro agita e estende a ampla garupa

Com a bela hediondez de uma úlcera no ânus.





Ficha Técnica:

Concepção e coordenação geral: Alice K. e Domenico Coiro
Oratório e TRAKTALKT : André valias
Deslocamentos e Lírio Dourado: Rodrigo de Araújo e Domenico Coiro
Nigen Isu – Rampo Pow, Poe: Alice K
Jardim de Poemas: Ângela Maino
Vênus de Rimbaud: Lilian Soarez
Trakl: André Valias e André Albuquerque
Caixa sonora: Domenico Coiro, Thiago Pinheiro
Trilha Sonora: Domenico Cioro
Design Gráfico: Mônica Leite
Iluminação: Silvia Godoy
Promoção: Japan Foudation


Abertura: 26 de fevereiro de 2005
Casa Aibi- Rua Aibi, 110












































































































sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

SOBRE O SACRIFÍCIO

Nas beiradas do esquecimento
Kléos(a última) segura na ponta da agulha
o que restou das palavras.
É muda a musa.
Sua boca sopra por entre os vão dos corpos
na eminência da queda,
ao redor das horas,
o gesto vazio
costura o silêncio,
fura o tecido do engano.
Penélope ao aveso,
nada espera.

Tentáculos se distendem sob a carne do oceano.



Irael - 03/07/2009



Irael me presenteou com esse poema após ter participado da performance " A Costura do Invisível"- na Oficina Osvald de Andrade.




quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

DEPOIS DO SAGRADO, A PROFANAÇÃO

Texto: Marcos Schmitd
Foto: Fabiola Chiminazzo


Entro pelo corredor, avanço em direção à luz violeta e olho pela abertura de entrada. O piso está coberto de tinta vermelha. Na mesa, mais tinta derramada. Duas circunferências desenhadas no chão, uma vermelha e outra preta. Bancos com traços apressados de tinta, o bordado feito pela Lilian no dia anterior irreconhecível, encharcado com tinta guache. Paredes e mapas pichados.
Volto meu olhar para as pessoas, e todos ali meio passados… A Cabana sofrera um atentado.
E nem fazia muito tempo, já que a tinta ainda estava fresca. Suponho que os perpetradores tinham pressa, dada a timidez do ataque. Muito frouxo. Destruir também não é fácil e demanda tempo e profissionalismo. Amadores prestam um serviço muito ruim. Mas é muito curioso o tipo de reação que a Cabana provoca. Ela exerce um fascínio tão grande que alguém não consegue se conter e invade um lugar para depredá-lo, sem se dar conta que este gesto trai o desejo recalcado de PARTICIPAR daquilo que se está destruindo.
Conversamos um pouco, e passamos a limpar a sujeira. Em pouco tempo, já não se podia saber do que havia ocorrido. Simples assim. E o bordado da Lilian foi erguido e transformado num estandarte.







Hoje, a Cabana tem um nome, tem um estandarte; tem um objeto bruto, que foi construído rápida e furiosamente e que é agora um símbolo (um símbolo dentro de outro símbolo). Um monumento e uma cifra.
Pareceu-me que estávamos tornando concreta a poesia primeira, aquela que antecede a fala. Um objeto bruto, que se recusa a apenas representar algo (isso seria sacrilégio). O totem que foi erigido É a própria coisa. É a lacuna materializada. Nós sabemos que é isso.
Terminado tudo, ficamos ao redor do obelisco, olhando para ele, feito os hominídeos de 2001.
Num dia, o sagrado. No outro, a profanação.
Pois foi a profanação que propiciou a materialização do sagrado. A materialização do silêncio que antecede o entendimento e a aceitação.

http://oficinadacabana.wordpress.com/2009/07/05/dia-16-sexta-feira-030709/

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A COSTURA DO INVISÍVEL - Cabana Solaris



A Performance aconteceu no dia 02/07/2009, em uma das aulas do projeto" Cabana Solares" coordenado por Rubens Espírito Santo na Oficina Cultural Osvald de Andrade.


Fotos: Rodrigo Bueno
Texto :Marcos Schmit


O silêncio branco do papel é diferente do silêncio do espírito sagrado. Este pode ser muito ruidoso e assustador. Pode proporcionar a possibilidade de muitas sinestesias: evocar calor ou frio, fazer perceber melhor as variações dos cheiros, das texturas das coisas que tocam os corpos. O silêncio do espírito sagrado amplifica os sentidos.




Houve uma performance no encontro de quinta-feira.
A performance que consagrou a Cabana, assim me pareceu. Talvez uma espécie de cerimônia-ritual para marcar seu nascimento espiritual.
Quando cheguei, a Lilian preparava o ambiente. Cobria de branco os bancos e a mesa, mapeou um caminho com papéis brancos. Fazia essas coisas com grande cuidado. Todos na Cabana em silêncio. Preparado o ambiente, ela começou a preparar-se. Um belo espetáculo, que se relaciona muito com os as duas palavras, ou cifras, que são repetidamente discutidas ali: embodied e umwelt.




Sua Performance se descrita de modo mecânico, fica mais ou menos assim: Lilian, vestida de branco, posta-se de pé, diante do caminho de folhas de papel branco que levam até um banco que serve de degrau para se subir à mesa, sobre a qual assentam dois outros bancos. Ela avança, sobe o degrau e a mesa e senta-se no último dos bancos, de costas para o primeiro. Alguém vai até uma bancada e apanha um pedaço específico de linha, corta e segue pelo mesmo caminho percorrido pela Lilian e senta-se atrás e junto dela. A linha é entregue a ela e uma palavra é sussurrada nos seus ouvidos. Quem subiu une-se à ela, coloca as mãos sobre as suas mãos. Lilian coloca uma agulha na linha, toma um pedaço de pano e começa a bordar a palavra que lhe fora confiada. Depois de terminado, o visitante volta pelo caminho de onde veio, e outro vai em seu lugar.



Essa é a descrição mecânica do evento.




O SILÊNCIO DO ACONTECIMENTO...

Texto: Marcos Schmitd
Fotos: Rodrigo Bueno e Fabiola Chiminazzo

Uma descrição mais real começaria pelo silêncio. Um silêncio espesso que nos envolveu, que modificou intensamente a percepção do tempo e do lugar.






Cada um que subiu, que entregou a sua palavra e se entregou à Lilian, o fez do modo diferente.



Alguns estavam tensos, outros serenos. Alguns se fundiram com ela, alguns avançaram sobre ela, outros foram tomados por ela. Os gestos eram largos, tranqüilos, obedecendo aos ritmos dos corpos, das respirações em harmonia.








Lilian bordava com as mãos do visitante sobre as dela. O silêncio era diferente para cada palavra que foi bordada, que foi urdida por seres fundidos e depois inscrita no universo.







Eu percebia o tempo como algo muito ligado ao silêncio das pessoas ali presentes, e era um silêncio de se perceber fazendo parte de uma cerimônia inaugural. O silêncio de ser nomeado. O silêncio do espírito consagrado.






Não houve discussão teórica nesse dia, nem houve construção.
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(VIVER – PULSAR – VERBO – LUZ – VERMELHO – RELAÇÃO – AR – CORTE – ME ESQUENTA)