sexta-feira, 12 de março de 2010

SUSTENTANDO O TEMPO PONTO POR PONTO

Textos: Edith Derdyk (Linha de costura) e Jacques Derrida ( Enlouquecer o subjétil)

A costura sinaliza a expansão da linha costurada no espaço, mas é a distensão do tempo no tempo que se torna trabalho.
A costura é aquele dia, aquele pedaço de tempo.


Entre o movimento que dura o instante que se repete.
Entre a permanência e o instante que me escapa.



A linha ocupa um espaço "entre".



A Linha é contorno, é carne, é ossatura. Qual é o corpo da linha? A linha empresta contorno ao mundo, caminha pela superfície das coisas.
Desvenda a relação entre os objetos sem ser totalmente algum deles. A linha do horizonte a quem pertence: ao céu, ao mar, à terra?



Cadê a linha de encontro entre as coisas do mundo?
A linha é fruto abstrato deste encontro concreto.





Costuro para ser. Não costuro para conquistar as formas. Já que a costura costura para nada, só para ela mesma, que me sirva pelo menos para aprender a viver.


Costurar supõe a condição de furar o material para logo depois juntar. De um tecido contínuo qualquer, de matéria maleável flexível, passível a ser transpassada, será preciso furar, cutucar, romper, cortar para ligar esse mesmo material numa nova configuração. Romper as malhas das tramas, das fibras encadeadas, das linhas sobrepostas, uma a uma, num determinado ritmo e velocidade para novamente religá-las, numa outra sucessão.





Coser: 1. “Eu podia... coser”, e para isso preciso realmente furar com uma agulha ou uma ponta pontuda, perfurar, penetrar, furar a pele da figura, mas posso coser para, 2. para fechar a ferida, suturar, cicatrizar, e mesmo a chaga que abro ao coser. Faço passar o fio que repara, reúne, mantém juntos os tecidos; ajusto a vestimenta que, recobrindo a superfície do corpo, esposa-a em sua forma natural, reveláa ao cobri-la. Ainda a verdade.



Costurar partilha o feito sua ambivalência com coser( transpassar mas também manter juntos os tecidos, pele, tela, ou carne) mas a isso acrescenta também a sua.


Ocupar-se em costurar á não cessar de cobrir de cicatrizes. Pois é esse o sentido desse verbo que relaciona o coser ou a costura apenas á carne. Ter o corpo costurado é poder mostrá-lo coberto de vestígios, as cicatrizes de golpes e feridas. Mas cobrir de cicatrizes pode querer dizer multiplicar os golpes e os gestos de reparações suturas e penso que pertencem ao tempo da cicatrização.



Performance realizada no dia 10/11/2009 - Sala de aula- PUC -SP




































2 comentários:

Monica disse...

Oi Lili...a linha do
horizonte acolhe.
Gosto do seu trabalho
fico com vontade de bordar
também.
beijos

jonaya disse...

que lindo isso!
bjs
Jo